O chefe do grupo paramilitar russo, Evguéni Prigojine, morreu num acidente de avião. Wagner ainda tem futuro no continente africano?
O aparente entendimento cordial entre Yevgeny Prigojine e o Kremlin foi apenas um engodo. Enquantoele se apresentou, para um vídeo, na África, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner afirmou querer “tornar a Rússia ainda maior em todos os continentes e em África”. Mas já, Vladimir Putin parecia estar a preparar a sua vingança depois do motim de Wagner. Já em público, na altura da cimeira Rússia-África, os dois homens estavam em desacordo sobre o Níger: o Kremlin tinha apelado a um "diálogo construtivo e pacífico" após o golpe, enquanto Prigojine falava pela sua parte de "adesão ao independência" de um Níger demasiado pró-Francês.
Eventualmente, o presidente russo conseguiu livrar-se de Prigozhin. O chefe de Wagner morreu ontem em um acidente de avião. O anúncio, feito pelas autoridades russas, do momento e das circunstâncias do “acidente” deixa pouca margem para dúvidas. Mas agora questiona-se qual será o futuro do grupo paramilitar em África.
O fim das relações entre os presidentes africanos e Wagner?
Por um lado, o próprio Prigozhin tinha relações muito pessoais com certos chefes de Estado. Mas desde o motim de Wagner na Rússia, algumas presidências africanas dissociaram-se de Prigojine, alegando ter celebrado contratos com a Rússia e não com uma simples empresa militar privada (PMC). No entanto, o antigo “cozinheiro” de Putin garantiu que queria reorientar as suas actividades para África.
Sem Prigojine, poderá Wagner nutrir as mesmas ambições? É preciso, antes de mais nada, saber quais executivos ainda estão vivos. Sabe-se que Dmitry Utkin, braço direito de Prigozhin, estava no avião que caiu. E quanto a Petry Bychkov, chefe do escritório da Wagner na África? Saberemos quando for publicada a lista dos dez passageiros que morreram no acidente.
Mas aconteça o que acontecer, o Kremlin tentará destruir a influência de Wagner, ou melhor, o que resta dele. Putin já começou por demitir, na passada quarta-feira, o general Sergei Surovikin, que era considerado o líder militar de Wagner.
Alguns milhares de homens poderiam tentar pegar a tocha de Prigojine, que havia prometido “tornar o continente africano ainda mais livre”. Mas em que contexto? Foi o próprio Yevgeny Prigojine quem manteve relações pessoais com os chefes de Estado. E, como sabemos, os mercenários são mais atraídos pelos recursos naturais do que por qualquer ideologia. Por seu lado, o Kremlin pretende certamente tentar acabar com Wagner ou, pelo menos, colocar os homens do grupo sob a supervisão do Ministério da Defesa russo.