Eric Zemmour teria encontrado seu especialista na África, na pessoa de Bernard Lugan. Um perfil polêmico, como se denuncia a obra do historiador.
Ele é, segundo Le Canard enchaîné, a “bússola” de Eric Zemmour na África. Bernard Lugan se apresenta como historiador. Mas o homem é mais conhecido por ser um aficionado da supremacia branca.
Surpresa (não): o conselheiro de Zemmour na África não é outro senão Bernard Lugan, de acordo com @canardenchaine.
Para redescobrir o pedigree do personagem: https://t.co/gExfP76f5Z pic.twitter.com/XYELR1eHFi
—Pierre Alonso (@pierre_alonso) 16 de fevereiro de 2022
Eric Zemmour e África é uma história um tanto complicada. Deve-se dizer que as posições do polemista que se tornaram muito políticas fizeram muito barulho no continente. Em maio de 2021, Zemmour afirmou, seguro de si, que “todos os traficantes de crack são senegaleses”. Consequência: o governo senegalês reagiu e deplorou a saída do candidato presidencial. Pensamos então que Zemmour não teria uma política africana elaborada em seu programa.
A comitiva "africana" de Zemmour
Mas no final de dezembro passado, o candidato à presidência da França deixou as malas em Abidjan, na Costa do Marfim. O candidato de extrema-direita decidiu então visitar o campo logístico de Port-Bouët e encontrar as forças francesas na Costa do Marfim. Um presente de Natal que não agradou necessariamente ao Ministério das Forças Armadas francês, que então considerou que Zemmour havia falhado em seu “compromisso moral” ao fazer de sua visita uma campanha de mídia.
Desde então, ninguém sabe mais sobre a política africana que Zemmour seguirá se for eleito presidente. Mas o candidato cercou-se, para a ocasião, de um certo número de especialistas. Entre eles, assegura a imprensa, Olivier Pardo, advogado do presidente da Guiné Equatorial Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da empresa Avisa Partners ou Olivier Ubéda, que trabalhou na Guiné.
E assim, Bernard Lugan. Especialista no Sahel, segundo os seus apoiantes, "proclamou-se, durante a sua longa carreira, especialista na África do Sul, depois no Ruanda, depois em Marrocos, depois no Egipto, depois no resto do Norte de África", resume África XXI. Autor do livro "As guerras do Sahel, desde as origens até os dias atuais", Lugan tornou-se a referência, junto aos parlamentares franceses, no dossier saheliano. Em tempos de guerra no Mali em particular, com a Operação Barkhane, Lugan, portanto, surfa nas notícias.
Raciocínio simplista cheio de erros
Se é criticado pelos historiadores, que o veem como um impostor, Lugan é acima de tudo considerado um racista comprovado. Na "África Real", carta lançada por ele há vários anos, defendeu notavelmente o apartheid, assegurando em particular que os brancos têm "a anterioridade da presença em 50% da África do Sul onde chegaram antes dos negros" ou assegurando que "o futuro da tribo branca passa pela criação de um Volkstaat". Em outras palavras, um estado africânder. “Apartheid deve ser separação, mas na boa amizade, atreve-se até o historiador. Todos em casa, em nenhum momento deve haver exploração de um pelo outro”.
Além de posições radicais, marcadas pelo amor à raça e à etnia, Lugan também foi notado por outros historiadores por seus inúmeros erros factuais. A Afrique XXI lembra ainda que nunca publica em revistas científicas. “Lugan não está apenas falando bobagem, nuance um pesquisador do jornal africano. Mas ele desenvolve ideias muito simplistas. Ela nega a complexidade. Com ele, tudo é binário. Eric Zemmour encontrou seu alter ego: um homem de raciocínio simplista, para quem a raça branca deve dominar. Resta agora ver qual será a política africana que Bernard Lugan irá propor.