O Conselho de Direitos Humanos da ONU votou ontem uma resolução expressando preocupação com a violência no Sudão. Para que servem as resoluções aprovadas pela ONU e o que elas realmente implicam?
O Conselho de Direitos Humanos (ACDH), órgão emanado da Organização das Nações Unidas (ONU), reuniu-se com urgência nesta quinta-feira. Foi adotada uma resolução na qual o OHCHR "expressa sua profunda preocupação com a escalada da violência no Sudão e apela às partes para que cessem imediatamente a violência".
Concretamente, este texto "apela a todas as partes para que ponham fim imediato à violência, sem pré-condições, para garantir rapidamente o acesso humanitário pleno, seguro e sem entraves, para restaurar a infra-estrutura básica essencial, para encontrar uma solução negociada e pacífica para o conflito com base na inclusão diálogo e renovar o compromisso de todas as partes com o povo do Sudão para retornar a uma transição para um governo liderado por civis".
Pontos de vista simples?
Belas palavras que, internamente, têm sido debatidas. Várias delegações, de fato, antes da votação do texto, consideraram que o projeto de resolução "não contribuirá para a resolução do conflito, em particular porque não leva em conta as iniciativas regionais em andamento": 15 delegações votaram contra o texto, incluindo Argélia, Gâmbia, Marrocos, Eritreia e Senegal, 14 abstiveram-se.
Mas, de fato, o que essa resolução realmente muda? As resoluções raramente mudaram o curso da história. Recordamos, em 2015, uma resolução aprovada por unanimidade pelos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, que estabeleceu um roteiro para uma solução política na Síria. Isso não foi seguido por quaisquer efeitos.
É preciso dizer que as resoluções são simples "expressões formais da opinião ou da vontade dos órgãos das Nações Unidas", lembra a ONU. Esses textos dizem respeito a “questões geralmente substantivas” e, portanto, refletem pontos de vista simples. Dentro dos órgãos das Nações Unidas, há resoluções, mas também decisões. No entanto, de acordo com as Nações Unidas, "com exceção das decisões relativas a pagamentos aos orçamentos regulares e de manutenção da paz das Nações Unidas, as resoluções ou decisões da Assembleia Geral não são vinculativas para os Estados-membros".
Pressão política e psicológica
Em outras palavras, além das palavras, uma resolução seria inútil? O caso de Israel mostra efetivamente que é possível violar as resoluções da ONU sem se preocupar. Desde 1967, o estado judeu de fato violou mais de trinta resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Mas, na realidade, deve ser feita uma distinção entre as resoluções aprovadas por unanimidade e aquelas sobre as quais os Estados-Membros discordam. “A unanimidade simboliza o consenso e isso dá maior peso político a uma resolução”, resume Alexandra Novosseloff, doutora em ciência política e especialista da ONU.
Se não forem vinculativas, as resoluções políticas podem ter um impacto, por vezes ligeiro: “Com as suas resoluções, a ONU aponta o dedo à política de um Estado. Isso inevitavelmente tem um impacto político ou até psicológico”, continua o especialista, que acredita, porém, que “vamos medir a eficácia das resoluções antes em décadas” do que em dias. Na história, algumas resoluções tiveram impacto: na África do Sul, na época do apartheid, por exemplo.