Após a rebelião de Wagner na Rússia, surgiu a questão da presença dos paramilitares do grupo na África. Wagner pode sobreviver? E se sim, em que condições?
"Quando estávamos lutando na África, nos disseram que precisávamos da África, e depois disso ela foi abandonada porque todo o dinheiro destinado à ajuda foi roubado." Em um de seus últimos discursos no Telegram, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner, Yevgeny Prigojine, relembrou seu descontentamento com Vladimir Putin, o presidente da Rússia, antes de tentar tomar Moscou. Evgueni Prigojine explicou então que não pretendia "trair" a Rússia, mas que Wagner não queria que "nosso país continuasse a viver na corrupção, na mentira e na burocracia".
Para ouvir Prigojine, portanto, a África seria um dos motivos que levaram o ex-"cozinheiro de Putin" a se voltar contra seu presidente. É preciso dizer que há cinco a seis anos o continente é um dos playgrounds do grupo paramilitar. República Centro-Africana, Líbia, mas também Sudão, Mali e até Burkina Faso… O grupo se desenvolveu em toda a África.
Mas o que a rebelião de Wagner mudará na África? Vários observadores acreditam que os problemas de Prigojine na Rússia - ele está atualmente tentando ir para a Bielo-Rússia para escapar da investigação que o atinge - Wagner deve continuar suas atividades normalmente. “No entanto, a influência russa na África não vai diminuir, diz Kelian Sanz-Pascual, analista geopolítico da Cassini Conseil, entrevistado pela RFI. Mesmo que o pesquisador assegure que “haverá um antes e um depois, inclusive na África”.
Porque a questão que se coloca agora é se Prigojine manterá seu emprego. O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, reapareceu na televisão, como uma esnoba ao chefe de Wagner, que o visava particularmente. Se o Ministério da Defesa tentar colocar as mãos em Wagner, Prigojine pode muito bem não ser o chefe nos próximos dias.
A queda de Prigojine, a manutenção de Wagner?
Ainda assim, não é simples: apesar do desejo do Ministério da Defesa de assumir as rédeas do grupo paramilitar, a decisão recairá necessariamente sobre Vladimir Putin. Aconteça o que acontecer, Wagner permanecerá onipresente no continente, seja com ou sem Prigojine. Porque quando os Estados contratam com Wagner, eles assinam antes de tudo com Moscou. Prigojine agradeceu, a Rússia terá até a possibilidade de substituir a Wagner por outra empresa privada.
Mas o que Prigojine poderia ter negociado com Putin para acabar com suas operações de rebelião? A saída para a Bielo-Rússia mostra que o patrão de Wagner não é mais bem-vindo, por enquanto, na Rússia. E se Putin deixasse a seu ex-aliado, como prêmio de consolação, a possibilidade de continuar suas operações longe de Moscou? A África seria então uma boa base para Prigojine, que poderia se concentrar em suas atividades africanas.
Seja como for, a Rússia certamente se recusará a deixar seu assento vazio na África. Os olhos também estão voltados para os líderes dos países que assinaram com Wagner. Porque, a partir de agora, está claro que o grupo paramilitar é capaz de tentar derrubar qualquer presidente. O suficiente para assustar até os generais mais experientes, caso Prigojine permaneça à frente da empresa.
Para o bem das relações russo-africanas, uma aquisição de Wagner pelo Kremlin corre o risco de ser imposta.