O fundador da Blackwater, Erick Prince, atua na África há anos. A redistribuição das forças armadas americanas na Somália representa uma oportunidade ou um problema para o mercenário?
Faz mais de uma década desde que o conglomerado de empresas militares privadas (PMC) Academi - anteriormente Blackwater - foi vendido, em uma das vendas mais misteriosas da história. A empresa de Erick Prince foi então envolvida em um escândalo que mistura crimes de guerra, corrupção, assassinatos seletivos e golpes de estado em todo o mundo.
A África é um dos playgrounds da sociedade. Se as intervenções da Blackwater no Marrocos e no Quênia entre 2007 e 2010 são públicas, seu criador Erick Prince ainda não havia encerrado a atividade mercenária na África. A única coisa que a venda – forçada – da Blackwater mudou foi o papel do famoso SMP fora dos Estados Unidos, bem como o fim da colaboração entre Prince e o governo americano. Oficialmente de qualquer maneira, porque em 2012, o nome do mercenário ressurgiu em documentos do WikiLeaks, provando que ele ainda estava trabalhando para a inteligência americana, a CIA.
Estranho então que, enquanto a elite de Washington condenava os massacres de Erick Prince, fugitivo nos Emirados Árabes Unidos (EAU), este representasse os interesses de outros grupos de mercenários… na África. De fato, o retorno à ação do antigo SEAL ocorreu sob a bandeira de um SMP baseado na China, Frontier Services Group (FSG). A empresa foi fundada por Prince, que a dirigiu até abril passado. Os contratos da FSG foram principalmente na África: Quênia, Sudão do Sul, África do Sul, Somália e Líbia.
As aventuras africanas de Erick Prince
Em 2014, Erick Prince foi obrigado a deixar o Sudão do Sul. Segundo a Bloomberg, o presidente Salva Kiir Mayardit descobriu uma má conduta na atividade da FSG, que deveria restaurar uma refinaria de petróleo. Segundo o Tesouro dos EUA, Erick Prince também vendeu aviões de vigilância em Juba, apenas estes últimos estavam equipados com hardpoints capazes de transportar mísseis balísticos russos ou americanos.
Esta não é a primeira violação do embargo de armas na África cometida por Erick Prince. No início de 2021, uma investigação do New York Times mostrou queErick Prince vendeu e transportou armas para o marechal líbio Khalifa Haftar em 2019. Segundo o jornal americano, um relatório confidencial da ONU mostra que, em troca de 80 milhões de dólares, Erick Prince também enviou centenas de mercenários no leste da Líbia durante a guerra de Trípoli. Além disso, o relatório encomendado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas permanece secreto até hoje.
Mas é sobretudo na Somália, sob o olhar da marinha americana, que Erick Prince criou um exército financiado pelo novo presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed ben Zayed Al-Nahyan (MBZ). A Puntland Martitime Police Force (PMPF), que conta com 2 mercenários, realizou grandes "operações antipirataria" no Golfo de Aden entre 000 e 2012. Hoje, a atividade de Erick Prince dentro da PMPF está sob investigação das Nações Unidas. Não apenas Erick Prince forneceu armas ao PMPF apesar do embargo da ONU, mas a origem dessas armas também levanta questões. De fato, no arsenal da PMPF, existem helicópteros franceses Alouette III, transportadores de tropas russos Antonov 2021, M26 Gatlings e mísseis americanos Hellfire.
E quanto ao retorno das tropas americanas à Somália?
A intervenção de Erick Prince na Somália não fez uso apenas da infraestrutura chinesa e do dinheiro dos Emirados. Prince contratou seu colega sul-africano, Lafras Luitingh, um dos criadores do infame Executive Outcomes. Os dois mercenários juntos formaram a empresa Projetos Especiais. Luitingh foi contratado como figura de proa, em antecipação à investigação da ONU.
De fato, se o Conselho de Segurança das Nações Unidas provou que Erick Prince e MBZ entregaram dinheiro a Luitingh, a investigação ainda não comprova o envolvimento do americano na morte de civis na Somália.
O mais estranho, porém, é a inércia das marinhas britânica, americana e italiana presentes na região. As forças ocidentais controlam todo o Golfo de Aden e sua força aérea mantém um bloqueio nos céus da Somália. Então, como Erick Prince consegue contrabandear suas entregas de helicópteros, aviões de guerra e armas pesadas para a Somália com impunidade?
Uma pergunta retórica quando se trata do caso somali, onde os militares dos EUA interferem a ponto de ditar a política do governo. Enquanto Washington decidiu em 16 de maio reiniciar um destacamento de soldados na Somália, como o ex-mercenário favorito de Langley viverá com seus compatriotas? Especialmente quando se considera que, por trás da "operação terrorista" de Biden, há sobretudo um desejo de trazer Puntland de volta ao rebanho de Mogadíscio, entre outros.