Antes da cúpula do BRICS, que acontecerá de 22 a 24 de agosto na África do Sul, a entidade anuncia que em breve lançará sua moeda única.
Este é um dos anúncios pré-cúpula que podem ter um impacto real. Enquanto o clube, por enquanto muito fechado, dos BRICS se reúne em Joanesburgo, na África do Sul, de 22 a 24 de agosto, espera-se que a criação de uma moeda comum seja anunciada durante este encontro que reunirá delegações da África do Sul, Índia, Brasil, Rússia e China. E se isso pode parecer trivial, está longe de ser. Até porque essa moeda comum pode ser implantada rapidamente, se acreditarmos em fontes próximas aos BRICS.
Um anúncio importante porque esta moeda, se vir a luz do dia, deverá ser lastreada em ouro. O que prejudica a "dolarização" do setor financeiro global. E quando sabemos que só os países do BRICS representam 25% do PIB mundial, com uma economia mais forte que a dos países do G7, há motivos para temer o pior para os Estados Unidos e para a Europa. Especialmente desde vários países gostariam de aderir à organização.
Rumo a uma “desdolarização” do comércio?
A futura moeda dos BRICS poderia ter pouco impacto se os países membros da organização não fossem exportadores de energia ou matérias-primas. Um critério importante que pode consolidar esse novo bloco monetário. O outro critério importante é a noção de bloco, precisamente. Só a China, com o yuan, pesa muito pouco na economia global, marcada por ativos nas reservas cambiais globais monopolizadas pelo dólar (60%) e pelo euro (20%). No entanto, uma moeda comum pode mudar o jogo.
Isso poderia significar o fim do dólar como moeda de reserva de referência? Provavelmente. Mas vai levar tempo. Na verdade, a “desdolarização” das finanças já experimentou algumas reviravoltas. Em 2018, pela primeira vez na história, um contrato de petróleo foi concluído em yuan chinês. A Arábia Saudita na liderança, mas também a Malásia, estão tentando se afastar da moeda americana. Além dessas primeiras transações históricas, a participação do dólar americano nas reservas do banco central caiu 10% no geral nos últimos anos.
Mas antes que o dólar caia completamente, levará tempo. Porque os Estados Unidos têm, no momento, sorte de ter, diante deles, países endividados em dólares. Até a China tinha, na época da criação da Nova Rota da Seda, emprestado em moeda americana. Embora a influência de Washington tenha diminuído, os Estados Unidos ainda têm uma economia forte e continuam sendo o maior produtor de petróleo do mundo. O que garantir para ainda favorecer o dólar, enquanto o petróleo americano fluir à tona.
O sistema de títulos virou de cabeça para baixo?
Ainda assim, as finanças são uma ciência às vezes surpreendente. O que depende em particular da situação geopolítica global. Mais do que uma vontade de derrubar o dólar, a nova moeda comum dos BRICS deveria ao menos possibilitar a descentralização das finanças globais. Uma competição saudável, de acordo com William Gerlach, Country manager da iBanFirst, que lembra que “os Estados Unidos como economia também sofrem com um dólar excessivamente poderoso”. Essa competição seria, portanto, ele escreve, “reconhecidamente ruim para os Estados Unidos como um 'império', mas benéfica para o país e suas empresas”.
Outros economistas são mais pessimistas. Eles veem na criação da moeda única do BRICS, como na época do lançamento das criptomoedas, riscos de instabilidade monetária. A futura moeda poderia de fato perturbar o sistema global de títulos. É preciso, afirma Tom Benoît, diretor editorial da Geostrategy Magazine, “esperar que esta nova moeda contribua para transpor para o tabuleiro de títulos os países que emprestam e os que emitem dívida”. Em outras palavras, quando a moeda dos BRICS for lançada, os investidores ocidentais poderão comprar títulos do governo dos países membros da organização.