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Giorgia Meloni, enviada muito especial do FMI para Tunis

Esta terça-feira, o primeiro-ministro italiano deslocou-se a Tunis. No cardápio de seu encontro com o presidente Kaïs Saïed, o tema da imigração. Mas Giorgia Meloni estava ali sobretudo para convencer a Tunísia a aceitar as reformas exigidas pelo FMI.

"Você é uma mulher que diz em voz alta o que os outros pensam baixinho." Ao receber Giorgia Meloni, o presidente da Tunísia, Kaïs Saïed, ficou ditirâmbico. Uma reunião para a qual a mídia tunisina não foi convidada. A visita do chefe do governo italiano foi breve. Tanto que a coletiva de imprensa conjunta que deveria ser realizada foi cancelada, "por falta de tempo", segundo a imprensa italiana.

Era, para o primeiro-ministro, tentar convencer o presidente tunisiano a aceitar as condições do Fundo Monetário Internacional (FMI) para um empréstimo. Uma abordagem nada desinteressada: Meloni não quer que a Tunísia se coloque à margem das instituições internacionais, o que poderia provocar uma crise migratória, da qual a Itália seria uma das primeiras vítimas.

Por ocasião do tête-à-tête entre Saïed e Meloni, depois entre o primeiro-ministro italiano e seu homólogo tunisiano, Najla Bouden, o Ministério do Interior italiano recordou os números irritantes: desde o início do ano, dos mais dos 50 migrantes que chegaram de barco à Itália, 000% deles eram tunisinos. Quanto aos outros, partem cada vez mais da Tunísia, em vez da Líbia, outrora ponto de partida dos refugiados.

Kaïs Saïed quer "taxar os ricos para dar aos pobres"

Giorgia Meloni estava, portanto, de plantão tanto para ela quanto para Kristalina Ivanova Georgieva, diretora do FMI. Mas por que a instituição de Bretton Woods está tão interessada em emprestar US$ 2 bilhões para a Tunísia? O presidente Kaïs Saïed recusa a ajuda do FMI, até porque deveria, se necessário, cumprir as reformas que a instituição exige.

O chefe de Estado tunisiano já disse: não se curvará aos “ditames” do FMI. Porque isso implicaria que afetasse os subsídios estatais aos produtos básicos, fornecidos pelo Fundo de Compensação. Saïed disse na semana passada que prefere "tirar o excesso de dinheiro dos ricos e dar aos pobres". “Em vez de suspender os subsídios em nome da racionalização, seria possível introduzir impostos adicionais para quem deles se beneficia sem que eles precisem”, acredita o presidente. Porque atualmente, pobres e ricos se beneficiam igualmente de subsídios quando compram combustível ou pão, por exemplo.

Ao recusar-se a curvar-se a “ditaduras estrangeiras”, Kaïs Saïed sabe que está a correr um risco. A dívida da Tunísia representa oficialmente 80% de seu PIB. Mas o Presidente da República não aprecia que o acordo de princípio do FMI, datado de Outubro passado, esteja sujeito a reformas que não deseja.

O FMI, "um amigo que te quer mal"

A história parece estar do lado do presidente tunisiano: acostumado a emprestar dinheiro aos países mais modestos para evitar a inadimplência, o FMI sempre impõe condições draconianas, como privatizações ou cortes orçamentários no funcionalismo público. “O serviço da dívida é o gesto visível de fidelidade”, resume o economista Jean Ziegler, ex-relator da ONU. A associação Attac vê no FMI “um amigo que lhe quer mal”.

Agora resta saber se Meloni foi convincente. Se o ponto de imprensa foi cancelado, é realmente por causa das respectivas agendas do presidente tunisiano e do primeiro-ministro italiano? Ou Kaïs Saïed simplesmente recusou, mais uma vez, a ajuda do FMI? Resta saber também quais seriam as alternativas para Saïed, taxar os mais ricos.

Além da questão do FMI, que parece não ter resultado positivo, a questão migratória aparentemente fez convergir as posições dos dois líderes. Meloni acredita que há necessidade, “a nível europeu, de uma abordagem concreta para aumentar o apoio à Tunísia na luta contra o tráfico de seres humanos e a imigração ilegal e de um programa que inclua financiamento”. Saïed aceitou a organização de uma conferência em Itália sobre este tema, que serviria para “escutar necessidades e desenvolver projetos susceptíveis de atrair investimento”.

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