Um “desprezo pela população”, um “capricho do príncipe” ou uma simples “má escolha” ... As palavras dos defensores dos direitos humanos do Gabão são duras para com o seu presidente, que decidiu aderir à Commonwealth. No momento da janela de transferência do futebol, o jogador Ali Bongo está à procura de um novo clube. É preciso dizer que as relações entre o chefe de Estado do Gabão e a França estão em seu nível mais baixo. E ao se encontrar com a Baronesa Patricia Scotland, o Secretário-Geral da Commonwealth e o Príncipe Charles, Ali Bongo embarca em uma operação de chantagem diplomática que não deve lhe trazer nada, se não problemas. Para integrar a organização intergovernamental, o Gabão deve mostrar as suas patas brancas em termos de promoção do Estado de direito, respeito pelos direitos humanos e democracia. E diante da situação lá, o país está longe de cumprir os critérios esperados.
Ao negar a França, Ali Bongo negará ao mesmo tempo sua herança paterna
Mas, afinal, se Uganda se juntou à Comunidade, por que o Gabão não sobreviveria? Só que tens de te colocar a pergunta certa: o que faria um país francófono numa organização que reúne principalmente as ex-colónias britânicas, com excepção do Ruanda ou da Zâmbia, e que não traz qualquer valor acrescentado em termos de trocas econômicas ou redução de taxas alfandegárias? É claro que o Gabão poderá se aproximar de seus novos aliados econômicos, país que, nos últimos anos, se voltou para investidores asiáticos, alguns dos quais ingressaram na Commonwealth. Mas, na verdade, Ali Bongo só quer mostrar à França que não precisa dela. Um andar desajeitado. Ao negar Paris, Ali Bongo negará ao mesmo tempo a sua herança paterna: "Os gaboneses têm uma pátria, o Gabão, e um amigo, a França", dizia na altura Omar Bongo, pai do actual presidente gabonês. Uma máxima que em breve não fará mais sentido.
Uma guerra de ego longe das preocupações do povo gabonês
Esse "capricho de príncipe" se deve muito aos erros de Ali Bongo: desde 2009, o filho tenta acabar com a estratégia do pai, que havia forjado fortes laços econômicos com sua antiga potência colonial. Mas a que custo? Ali Bongo, no entanto, não colocou seu país à tona. E hoje quer ir mais longe: além do ganho econômico, longe de ter certeza, ele espera que a bandeira da Union Jack um dia voe nas escolas do Gabão: o presidente quer que o inglês se torne a segunda língua de trabalho no Gabão, que em a vez tentou entrar no mundo do funk americano sem sucesso. Desde 2012 é responsável por desenvolver a experiência do bilinguismo inglês-francês. Mas os gaboneses esperam outra coisa: comida, empregos e mais liberdade. O pedido de adesão do Gabão à Comunidade Britânica parece bastante ilusório para a população, que vê a abordagem de Ali Bongo como mais uma fantasia. Mas também como uma forma desajeitada de mandar um passeio pela França. Uma guerra de ego longe das preocupações de seu povo que gostaria de ações concretas.