O chefe de Wagner, Evgueni Prigojine, anunciou que não quer mais lutar na Ucrânia e quer mandar seus homens de volta para a África.
Enquanto muitos observadores pensavam, após a rebelião dos soldados de Wagner, que o grupo paramilitar russo estava prestes a deixar a África - o últimas deslocações dos militares do grupo na República Centro-Africana tinha então feito muita conversa - poderia ser o oposto. Evgueni Prigojine, o chefe do grupo, que já se relacionou com vários presidentes do continente, acaba de publicar um novo vídeo no qual continua a disparar bolas vermelhas contra Vladimir Putin e anuncia que quer se concentrar no continente.
Prigojine aborda, neste vídeo, diversos integrantes do Wagner. Sem saber quando o vídeo foi filmado, ou onde – provavelmente na Bielo-Rússia, enquanto várias fontes afirmaram que Yevgueni Prigojine ainda estava na Rússia – ele explica que quer deixar a frente ucraniana. “Você fez muito pela Rússia. O que está acontecendo no front hoje é uma desgraça da qual não temos que participar”, afirmou.
Neste mesmo vídeo, a Prigojine desenvolve sua estratégia futura. Será uma questão, explica o patrão de Wagner, de ficar na Bielorrússia “por um certo tempo”, depois de partir “por um novo caminho, rumo a África”. Este “não é o fim, mas o início de uma grande obra que em breve estará concluída”, avisa o responsável do grupo russo.
Quebra-cabeça diplomático para CAR e Mali
Isso significa que a Prigojine irá, contra o conselho do governo russo, continuar suas atividades na África? Para isso, terá primeiro de convencer os chefes de Estado com quem trabalhou antes da rebelião. Porque, seja no Mali ou na República Centro-Africana, esta será uma verdadeira dor de cabeça diplomática para os presidentes destes dois países. O chanceler russo explicou que, "além dessas relações com a organização Wagner, os governos da República Centro-Africana e do Mali têm contatos oficiais com o nosso governo".
A presidência centro-africana havia, algumas semanas atrás, tentado entrar em contato ao ser questionada sobre o futuro do contrato entre a RCA e Wagner. O conselheiro de Faustin-Archange Touadéra havia de fato indicado que, se o grupo "talvez mudar de líder", os soldados de Wagner "continuarão a operar em nome da Rússia" na República Centro-Africana. Touadéra continuará a trabalhar com Prigojine ou isso pode prejudicar suas relações com o Kremlin?
Esse é todo o dilema. De sua parte, em todo caso, Wagner garante, nos mensageiros russos, que os governos africanos estavam agora em contato "direto" com Wagner e que "a Rússia oficial não tem nada a ver com isso". E Wagner adverte: “Funcionários do Ministério da Defesa da Rússia não trabalham na República Centro-Africana”.
É claro: Bangui corre o risco de se tornar palco do confronto entre Wagner e Moscou. Porque se a RCA afirma ter feito contrato com o Kremlin, Prigojine parece pensar o contrário. E, com os seus homens, pretende recuperar os seus contratos que, segundo fontes russas, foram reencaminhados para outra estrutura comercial. Uma maneira de Prigojine retornar à África pela janela?