As dez crises mais negligenciadas pela comunidade internacional estão ocorrendo em solo africano, segundo uma ONG que teme que o continente volte a ficar em segundo plano.
Difícil de acreditar para os telespectadores ocidentais, mas o conflito que se desenrola atualmente na Ucrânia não é o único no mundo. Desde 24 de fevereiro, a guerra russo-ucraniana tem sido amplamente divulgada. O observatório de mídia francês, Acrimed, afirma que “a invasão russa da Ucrânia foi coberta pela mídia quase continuamente nos canais de notícias” e que “polarizou a maior parte do fluxo audiovisual e ocupou o dos jornais. Segundo a associação, um “foco quase exclusivo da agenda mediática” que relembra o início da pandemia de Covid-19.
A Acrimed destaca a supermidiatização do conflito ucraniano com a “quase indiferença da mídia à guerra no Iêmen (…), à guerra interminável no Iraque, ou às centenas de milhares de mortos da guerra na Síria”. Querendo jogar a carta da equidade do conflito, a associação francesa, no entanto, esquece de mencionar a África.
No entanto, muitos conflitos acontecem todos os anos, e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia os ofuscou completamente. A cada ano, a ONG Norwegian Refugee Council (NRC) lista as dez crises mais negligenciadas do mundo. Negligência baseada em três critérios: “falta de vontade política internacional, falta de ajuda humanitária e falta de interesse da mídia”.
E pela primeira vez em muito tempo, essas dez crises negligenciadas são todas identificadas no continente africano: na República Democrática do Congo (RDC), no Burkina Faso, nos Camarões, no Sudão do Sul, no Chade, no Mali, no Sudão, Nigéria, Burundi e Etiópia.
O sofrimento africano fica em segundo plano
Para a ONG, “com a polarização em torno da guerra que se desenrola na Ucrânia em solo europeu, (…) o sofrimento africano (…) fica ainda mais em segundo plano”. E por um bom motivo: os próprios números são impressionantes. Na RDC, lembra a ONG, 5,5 milhões de pessoas foram deslocadas e há 1 milhão de refugiados só em 2021.
A RFI recorda ainda que, embora o conflito seja terrível, “nenhuma reunião de alto nível dos países doadores foi realizada na RDC e apenas 44% dos 2 bilhões de dólares solicitados pelas Nações Unidas para ajuda humanitária foram concedidos”.
É aí que reside o principal descaso: o desinteresse da comunidade internacional. Mas também deve muito à mídia. O desinteresse dos canais de notícias impede o público de perceber que as piores crises humanitárias estão ocorrendo na África.
Hoje, é difícil classificar as crises de acordo com sua gravidade. Mas essa classificação segundo a negligência internacional mostra que ainda há um longo caminho a percorrer. A África continua a ser a grande esquecida. E é hora de o mundo abrir os olhos para os dramas humanitários que se desenrolam atualmente na África.