Enquanto os Estados Unidos nomearam David Satterfield, ex-embaixador dos Estados Unidos na Turquia e novo enviado especial para o Chifre da África, do Quênia, o chanceler chinês Wang Yi anunciou que a China também nomeará um representante para a sub-região.
São dois anúncios sucessivos que mostram o interesse das potências estrangeiras no Chifre da África. Na quinta-feira passada, os Estados Unidos substituíram seu ex-enviado especial para o Chifre da África, Jeffrey Feltman, pelo agora ex-embaixador na Turquia, David Satterfield. A China acaba de anunciar que em breve nomeará seu próprio representante para o Chifre da África.
A nomeação de David Satterfield, que encerrou prematuramente o mandato de seu antecessor - Feltman foi nomeado em abril passado - envia uma mensagem clara: os Estados Unidos, que perderam o controle dos arquivos do Sudão e da Somália, e os antagonizaram. A Etiópia, percebeu que sem com o apoio da China ou da Rússia, eles poderiam seduzir a diplomacia turca.
En effet, A Turquia está bem estabelecida diplomaticamente, comercialmente e militarmente na Somália, e pode até ser visto como um forte competidor dos americanos na região.
Turquia, aliada da circunstância
Por sua vez, a China está tentando desempenhar um papel na política e na segurança da região. Uma função que também inclui um componente militar. Suspeita-se que Pequim, como Moscou, forneça equipamento militar ao Estado etíope, apesar do embargo da ONU. No relatório anual do Pentágono, os americanos garantem que a China busca estabelecer bases militares no Chifre da África, em particular no Quênia e na Tanzânia. Informação negada pela China.
Depois de um ano marcado por graves crises, na Etiópia e no Sudão, além do Fiasco somali, em que os americanos assumem parte significativa, Jeffrey Feltman teve que entregar. O apoio dos militares americanos ao presidente da Somália, Mohamed Abdullahi Faarmajo, decidido durante a gestão de Donald Trump, gerou uma crise diplomática, especialmente com Djibouti. Outro oficial americano está na mira de Washington: General Stephen Townsend chefe do Africom.
Ao nomear David Satterfield, a diplomacia americana espera matar dois coelhos com uma cajadada só. Em primeiro lugar, ao oferecer concessões em contratos de armas no Chifre da África, os Estados Unidos procuram dar a Ancara mais oportunidades. Porque o sentimento antiamericano, especialmente na Etiópia, só está piorando, enquanto a Turquia desfruta de uma imagem positiva na África. Os Estados Unidos buscam estabelecer, sem declarar claramente, uma aliança de contingência com a Turquia para impedir a expansão chinesa na região.
Etiópia e Sudão, questões delicadas
O Chifre da África é uma importante aposta econômica e militar. Porta de entrada para o Mar Vermelho, a poucos passos do Iêmen, é altamente cobiçada pela China e pela Rússia. Mas o Chifre da África também desperta um interesse crescente para os Estados Unidos. Washington busca, de fato, fortalecer sua presença militar na região, tranquilizar seus aliados no Golfo Árabe, mas também controlar o fluxo de mercadorias chinesas enviadas para a Europa, Oriente Médio e África Oriental.
É, portanto, uma verdadeira Guerra Fria que está ocorrendo entre Washington e Pequim. E embora em outras partes da África a China já tenha vencido muitas batalhas, o jogo está apenas começando na África Oriental. Com eleições na Somália e no Quênia marcadas para 2022, os Estados Unidos querem vencer, e rapidamente.
Também é preciso lembrar que a morte de John Magufuli, ex-presidente da Tanzânia, possibilitou o relançamento da diplomacia tanzaniana com o Ocidente. Mas a presidente Samia Suluhu Hassan condiciona abertamente suas relações com os Estados Unidos a um "papel mais positivo" dos americanos no conflito etíope, uma fonte de preocupação para os países da região.
Resta saber qual será a reação da Europa a uma entrada chinesa na contenção, o que sugere grandes convulsões diplomáticas, particularmente em torno da questão sudanesa. Um arquivo que interessa à França, que investiu recursos consideráveis na transição sudanesa.
Outra questão importante: a Turquia agarrará a mão que os Estados Unidos lhe estendem, sob o risco de se ver atolada em um conflito latente com a China?